Diferentes formas de aprendizado e retenção de informação: o que dizem os estudos?

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Aprender e reter conhecimento são habilidades essenciais para nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Entretanto, a forma como cada pessoa aprende e retém informações pode variar consideravelmente, influenciada por fatores biológicos, psicológicos e contextuais. A neurociência e a psicologia cognitiva têm se debruçado sobre essas questões, oferecendo insights valiosos. Vamos explorar as principais formas de aprendizado e as estratégias que potencializam a memória, com base em estudos científicos.


1. Aprendizado ativo vs. passivo

Um dos achados mais consistentes é que o aprendizado ativo tende a gerar maior retenção do que o passivo.

  • Aprendizado ativo envolve engajar-se diretamente com o conteúdo: fazer resumos, ensinar outra pessoa, aplicar o conhecimento em exercícios ou problemas reais.
  • Aprendizado passivo ocorre ao apenas ler ou ouvir, sem uma interação significativa.

Um estudo clássico publicado no Journal of Educational Psychology (Chi et al., 1989) mostrou que estudantes que explicavam a matéria em voz alta para si mesmos (autoexplicação) aprenderam melhor do que aqueles que apenas liam o texto. Outro exemplo é o chamado efeito testing effect: testes frequentes, mesmo sem valor de nota, reforçam a memória mais do que releituras (Roediger & Karpicke, 2006).


2. Prática distribuída vs. massiva

Outro princípio bem documentado é o do espaçamento (spacing effect): estudar o mesmo conteúdo em sessões espaçadas ao longo do tempo é muito mais eficaz do que “maratonar” o estudo de uma só vez.

  • Cepeda et al. (2006), em uma meta-análise com mais de 300 estudos, mostraram que a prática distribuída melhora significativamente a retenção a longo prazo.
  • Isso acontece porque intervalos entre revisões obrigam o cérebro a reconsolidar a memória, fortalecendo as conexões neurais.

3. Multissensorialidade: envolvendo diferentes sentidos

Utilizar diferentes canais sensoriais (visual, auditivo, cinestésico) pode ajudar na fixação. Estudos de Mayer (2001) em aprendizagem multimídia indicam que integrar imagens e palavras, por exemplo, resulta em maior retenção do que apenas texto ou apenas áudio.

No entanto, é importante ressaltar que a ideia de “estilos de aprendizagem” (visual, auditivo, cinestésico) como preferências fixas — muito popular em treinamentos — não encontra forte respaldo científico (Pashler et al., 2008). O que funciona é variar os estímulos e associar a informação a diferentes contextos sensoriais, pois isso cria múltiplas rotas para a recuperação.


4. Aprendizado significativo: dar sentido e contexto

Segundo a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (1968), informações novas são melhor retidas quando podem ser ancoradas em conhecimentos prévios. Não é só “memorizar”: é integrar com o que já sabemos.

A construção de mapas mentais, esquemas e analogias é uma forma prática de promover essa integração. Estudo de Novak e Gowin (1984) com mapas conceituais mostrou aumento substancial na compreensão e retenção.


5. Emoção e motivação: o papel do interesse

A neurociência demonstra que a emoção modula fortemente a memória. O sistema límbico, especialmente a amígdala, interage com o hipocampo para priorizar a consolidação de memórias que tenham carga emocional.

Por isso, temas que despertam interesse, curiosidade ou mesmo surpresa são mais bem lembrados. Ambientes de aprendizado que incentivam a autonomia e a autoeficácia também aumentam a motivação intrínseca, o que potencializa a retenção (Deci & Ryan, 2000).


6. Sono e consolidação da memória

Não dá para falar de retenção sem mencionar o sono. Durante o sono, especialmente na fase REM, ocorrem processos de reorganização sináptica que consolidam memórias. Estudos mostram que pessoas que dormem após estudar retêm mais do que aquelas que permanecem acordadas pelo mesmo período (Diekelmann & Born, 2010).


Conclusão

Os estudos científicos apontam que o aprendizado eficaz não depende de uma fórmula mágica, mas sim de um conjunto de práticas:

✅ Aprender ativamente, praticar o recall (lembrar sem consultar), ensinar o que aprendeu.
✅ Distribuir o estudo ao longo do tempo, em vez de concentrar tudo em um único bloco.
✅ Explorar diferentes sentidos e formatos de apresentação do conteúdo.
✅ Conectar o novo ao que já sabe, construindo redes de significado.
✅ Manter o interesse e a emoção engajados.
✅ Respeitar o sono, pois ele é aliado do cérebro na consolidação.

Dessa forma, é possível potencializar não só o aprendizado, mas principalmente a retenção a longo prazo — o verdadeiro objetivo de quem busca crescer intelectualmente.

Exemplos práticos e técnicas aplicáveis para aprendizado e retenção

1. Prática ativa — Técnica do Feynman

Exemplo: Depois de estudar um tema, explique para si mesmo ou para outra pessoa, como se estivesse ensinando para alguém que não sabe nada sobre o assunto. Use linguagem simples.

Por que funciona: Ensinar força o cérebro a organizar a informação e identificar pontos que você ainda não domina.


2. Teste de recuperação (Recall)

Exemplo: Em vez de apenas reler suas anotações, feche o material e tente lembrar, escrevendo tudo o que conseguir sobre o tema. Depois confira o que faltou.

Por que funciona: A recuperação ativa da informação fortalece a memória mais do que a releitura passiva.


3. Prática espaçada (Spacing)

Exemplo: Em vez de estudar 4 horas seguidas, divida em 4 sessões de 1 hora em dias diferentes. Use lembretes para revisar conteúdos estudados anteriormente.

Por que funciona: O espaçamento dá tempo para a memória se consolidar, evitando o esquecimento rápido.


4. Mapas mentais e esquemas

Exemplo: Ao estudar um capítulo, faça um mapa mental com os conceitos principais, usando cores, setas e desenhos.

Por que funciona: Organizar o conteúdo visualmente ajuda a conectar ideias e facilita a recuperação.


5. Estudo multimídia

Exemplo: Combine texto, vídeos e podcasts para estudar o mesmo assunto. Por exemplo, leia um artigo, assista a uma palestra e escute um podcast.

Por que funciona: Estimular múltiplos canais sensoriais cria diversas rotas para lembrar a informação.


6. Uso de flashcards

Exemplo: Crie flashcards com perguntas e respostas (físicos ou em apps como Anki). Reveja-os regularmente com intervalo crescente.

Por que funciona: Os flashcards facilitam o teste de recuperação e a prática distribuída.


7. Método Pomodoro

Exemplo: Estude por 25 minutos focado e depois faça uma pausa de 5 minutos. Repita o ciclo 4 vezes e depois faça uma pausa maior.

Por que funciona: Mantém a concentração alta e evita a fadiga mental, tornando o estudo mais produtivo.


8. Contextualização e analogias

Exemplo: Ao aprender um conceito difícil, tente relacioná-lo a algo do seu cotidiano, ou crie uma analogia que faça sentido para você.

Por que funciona: Dar sentido e contexto à informação facilita sua integração no conhecimento já existente.


9. Autoavaliação e feedback

Exemplo: Faça exercícios, simulados ou quizzes e busque corrigir os erros com atenção.

Por que funciona: Identificar erros permite corrigir falhas de compreensão e aprimorar o aprendizado.


10. Cuidado com o sono e descanso

Exemplo: Após um dia intenso de estudo, tenha uma boa noite de sono para consolidar as memórias.

Por que funciona: O sono reorganiza e fixa as informações aprendidas.

Marcio Loureiro é formado em Análise de Sistemas e possui MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Certificado em metodologias ágeis (CSM, CSPO, KMP), atua há mais de 25 anos em duas frentes complementares: Na comunicação e tecnologia, como sócio-fundador da PromoDigital (Empresa premiada internacionalmente com ouro no IDEA Awards) e no mercado de entretenimento, onde trabalha com áudio e música como empresário, músico, diretor musical e produtor de artistas de destaque nacional. Já deixou sua marca em projetos de peso para multinacionais como Coca-Cola, Shell, Petrobras, Governo Federal e Sony Music. Apaixonado por gastronomia, é também um aspirante a chef nas horas vagas.

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